segunda-feira, 2 de junho de 2008

Desejo e reparação

Ela veio como quem não quer nada. Olha para você, de longe, com aquele olhar cativante. Estuda-te. De cima a baixo. Você se indaga: "Mas que diabos?!" Mas não tem jeito, é mais forte que você. "Deixe-se levar", ela diz em um sussurro. Ela vem chegando mais perto, é inevitável. Parece que suas barreiras amolecem, você começa a entregar os pontos.

Porém, parece que aquele resquício de força que sobra em você, aquele escondido lá no fundo, aparece, ganha força e diz: "Não, cara! Não é por aí! Tome cuidado!" Você ganha mais algum tempo. Contudo, ela é mais ágil que você. Aproxima-se. Rapidamente. Quando você percebe, você já está encurralado.

Não tem mais jeito. Olha para os lados e não vê nenhuma saída. Olha para ela e percebe, em seu olhar, uma mistura de desejo, ambição e puro instinto. Você sente sua presença, junto a você. É nessa hora que você baixa suas guardas e, finalmente, ela se apodera de você. "Perdi, de novo", você pensa.

Maldita gripe. Me pegou no contrapé novamente.

Flávio T. Botelho - 25/03/2008

Terra de ninguém

Minha terra era perfeita
Vim de um lugar
Onde os pássaros faziam revoadas
Vim de um lugar
Onde plantas e insetos vivem harmonicamente
Vim da terra onde os leões choram
Para os outros era o fim do mundo
O lugar onde a terra dobrava a esquina
Na minha terra
Os barcos voavam em harmonia com os pássaros
Vim de um lugar
Onde a música ressoava
Em todos os cantos de todas as casas
Num lugar onde as mulheres eram perfeitas
Minha terra não tinha nome
Nem estava no mapa
Minha terra está apenas na imaginação daqueles...
...
Mas estes se foram, sumiram
E agora
Minha terra sumiu
Desapareceu
Vim da terra
Onde os leões choram

Flávio T. Botelho – 14/01/2005